quarta-feira, 30 de novembro de 2011

_combinadO

Mãos vazias e boca quieta; ela chegou.
Olhava por baixo, como quem sabe não entender.
tornou-se, então, dona de tudo que fui e que sou
ganhou a corrida que eu nunca pensei em perder.
hoje está longe, não pode me ver e beijar.
Mas é perto que a penso e que a sinto.
Penso se me vê, se pensa em mim e onde está
lembro da boca e do beijo, em desejo, tinto.

cadê a voz, o mundo de sopro criado?
cadê o anjo sem asas e o abraço?
Do reino de agora eu sou o Rei calado
e a Rainha de mim afastou-se de meu laço.

Mas a manha do amanhã tão bem me pega
e as lembranças se convertem num mar real
em pleno fio da meada, seu olhar me cega
e o salão, antes silêncio, vira carnaval.
É dia de vê-la, dia de amor e de cantos
dia do prato que chega como na canção
dia de risos, de morte a todos os prantos
dia de fim, definindo o contrário do 'não'

e como 'sentido' e 'destino' se equiparam
(troque as letras de lugar para saber)
posso dizer que aqueles meus sonhos chegaram
(e a alma já bebe da calma, pois tenho você)
e em seu colo hei de contar os meus segredos
hei de tecer os escritos do livro primeiro
pois é no lar do seu riso que fogem os medos
é como se... seu abraço fosse o meu mundo inteiro.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

_telefonemA

choro. De saúde e de saudade
choro do tempo em que o tempo era neném
o tempo dele, do pai do irmão, da liberdade
tempo em que eu não precisava temer ninguém

choro pelo tempo que não ousa mais voltar
a meta, a metade, a moral, o abraço de pai.
o pai sem terno, o pai eterno, o aposentar
após sentar, ler a estória que o sono atrai.
a voz da criança travestida de senhor
voz que gritava o meu nome só pra me ver
voz que agora é calada no meu calor
que de novo tanto, como manto, queria ter.
a voz de paz, a voz de pais, a voz de avós
voz das idades num só corpo encarceradas
voz carregando o poder de oitenta e um nós
voz de ''tá tarde, volta pra casa'', voz de mãos dadas.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

_quartO

hoje um anjo dormiu em meu regaço
seu respirar embalou o anoitecer
sua voz, tão pouca, fez o coração crescer
e o seu corpo todo foi como um laço.

hoje um anjo disse que me amava
e que pouco amor nunca seria
e o meu tal anjo me beijava e me sorria
e o seu gosto de convite é o que ficava.
conforme a noite foi se avizinhando
meu sonho alado ainda mais dormiu
abraço de mãos sem asas: a dor sumiu
fiquei ali, o sono do anjo velando.

de repente o meu anjo abriu o olhar
e o quarto quase todo em mim girou
quantas idas, quanta vida ali se formou
e os cantos de encanto vieram a mim cativar.

hoje eu só temo que uma coisa aconteça
tremo em pensar que num dia não a veja
a alma grita, a alma escreve, a alma almeja:
o amor do anjo impede que eu pereça.
as palavras, a voz, o beijo e o riso
tudo do anjo é meu e meu apenas
sua dança nos ares, seu abraço de penas
de tudo que é dela é que eu preciso!

e a saudade já me bate assim que despeço
digo e peço ao tempo ''vá, sem demora''
eu peço e imploro, meu anjo ora
em nosso abraço há o pouco e o excesso.
então termino, meu anjo sem asas e céu
pedindo, dizendo, querendo e cantando
os verbos são muitos, mas me pergunto quando
serei eu de ti, sem horas, sem dores e véu.

_salA

cai a máscara, o pano e o poeta
rima de ano em ano na cabeça
proposto o tema, ergue-se a meta
que venha tudo p'ra que o conto não pereça.


ao lado, com um cubo do bolso tirado
repousa o segredo sagrado do que canta
sonho que eu vivo, sonho que veio comigo acordado
sonho que eu quero que me cubra como uma manta.


mas voltando aos instantes da atuação
a tua ação me mostra o espelho da vida
a rima certa, o desafio ao coração
a peça perfeita, peço seja feita e não lida.


decoro o texto, de cor o pretexto do mascarar
mais tarde nasce o fruto do frio, da memória
cubo a cabo, ao cabo do mundo, e acabar
é chegar ao fim diverso, do verso sem tema e sem glória.

sábado, 5 de novembro de 2011

_torpedO

então suma daqui, vá-te embora:
eu nunca mais te quero perto.
penso que é já chegada a hora
de escolher qual dos dois é o mais certo.

leve consigo os vícios e delícias
fiquem aqui as virtudes do maior
quero longe as palavras de malícia
quero a morte de meu duplo pior
find' hoje o peso de um mundo não mais meu
pois o teu beijo e o teu riso resgataram
aquele leve, livre e lúdico outro eu
sinto agora que as vozes d'antes se calaram.

era um júri o que havia em minha rota
tantas vozes e mãos a apontar
satisfeitas com cada encenada derrota
nunca dispostas, contudo, a ajudar.
hoje os caminhos que eu trilho são de ti
vêm de mim, mas antes por você passaram,
o que rimo, o que escrevo, o qu'insiste em sair:
são os mundos nossos que finalmente chegaram.

eu só agradeço e peço que não pare
sigo a saga e segrego-me em segredo;
olhe essa foto, veja este espelho, amor, encare
é o futuro que nos convida a não ter medo.
abre a via de nosso conto, abrevia
sobrevoa e sobrevive ao que vier.
quem é você, quem sou eu em cada dia:
sou a criança que insiste em comer de colher.

e nessa troca de idas, de idades
eu me perco, porque há muito já cedi.
agora sou teu e de nossas muitas cidades.
e a propósito, meu amor: - perdi!

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

_locaL

O velho entra pela sala onde estou eu
declara a mim que eu nunca serei
aquele antigo outro nome qu'era meu
aquele outro dono de tronos, cetros: rei.

Em sua fala eu noto o poder das eras,
dos ponteiros, implacáveis escultores
seu rosto é banquete, as rugas, as feras
seu corpo todo foi tomado pelas dores.
Continua a discursar, o falecido
sim, pois já morto, esquecera-se do esquife
é como um barco naufragado, carcomido
por demônios moradores dum recife.

Suas palavras me ferem, pois é verdade:
vem o tempo e, mal o vemos, já se foi.
deixa sua marca, assina rubrica na vaidade
o tempo é um eternizado eco de ''oi?''
Enfim eu noto que o velho está vestido
tal como estou, da cabeço até o artelho.
O velho intruso no meu quarto escondido
no fim sou eu a gritar para o espelho.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

_esguelhA

relógio parou, tempo emudeceu
ponteiro desistiu, imagem eterna
corda de nó cego que se deu
saci qu'é manco duma perna

o relógio negou o meu pedido
mostrava o mesmo horário toda hora
nem quando eu desisti, vencido,
o meu adorno permitiu-me ir embora

está lá no pulso, quieto e sisudo
fechado em si, sem mais tiquetaquear
cheguei até a pensar qu'estava surdo
mas era o tratante que negara-se a falar!

bem parece me encarar em desafio
é como se...se perguntasse ''e agora?!"
e seu silêncio me vestiu dum arrepio
quand'eu sempre via, rente , a mesma hora.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

_ré médio

eu queria estar aí,
meu amor...
eu queria te vestir
pra fazer parar a dor
e quando chegasse a hora
do vento na janela
se eu tivesse que ir embora
me desenhava em sua tela.

rápido, rasteiro, corrido
um minuto vestido de segundo
no ar, voando, no chão, caído:
sou o grito presente no seu mundo.

e se eu pudesse meter o bedelho
onde antes não ousaram me chamar
iria me fundir a teu espelho
e os seus traços, um a um, decorar.
se ris, ouço em mim o grito das cores
se choras, ouso no fim beber do pranto;
posso provar tu'alegria e tuas dores
sem nunca chegar a pensar que provei tanto.

porque é o mistério de um livro o que noto
quando levo o meu olhar dentro em você
e como é eterna a memória numa foto
será eterno o que de nós eu escrever.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

_escassO

meu velho amigo de sempre, puxe uma cadeira
tens ao meu lado o teu lugar cativo.
passe comigo esse resto de noite inteira
eu sinto a falta daquele teu humor nocivo.

faz tanto tempo que te não ouço falar
hoje o silêncio é a herança da nossa amizade.
esse som ao fundo é a harmonia dos filhos do ar
dos deuses de concreto da cidade.
é essa marcha que se ouve aqui ao fundo
o som dos anos que, pacientemente, ouvi.
hoje o caminho que trilhei é, pois, imundo
rareiam as rimas qu'eu um dia escrevi.

sabe quando o compromisso se lhe escapa
bem como corre aquele verso outrora destro?
e a maestria que me soava qual nobre capa
hoje é carrasco no tal mundo que eu mesmo mestro.

sabe quando tudo ri, mas falta algo?
sabe quando, mesmo ali, o sonho ecoa
e vai indo, se esvaindo, indo...foi
(e a rima de antes já não sabe ser tão boa?)

naquela hora em que a noite ousa ir alta
o mundo aquieta e é o poeta o único que fala.
na exata hora entre o que se tem e o que falta
no tempo preciso em que o mais nobre orador se cala...
reter essências é a arte do que escreve,
do que abstrai das ideias o coração.
daquele mesmo, que, madrugada'dentro, se atreve
a colher, em pleno silêncio, o dom da canção.

e a saga segue, o rio ruge e o céu, em cisma
os seres nomeia, no meio deles logo some
e do seio irado vê-se fluir o crisma
qu'é a alva penha, trazendo consigo um novo nome.

sábado, 24 de setembro de 2011

_correDOR

e, se aos olhos alheios, te amar será estranho
é sem a aprovação deles que posso caminhar.
que lhes importa se em teu abraço eu me banho
deve-me valer o que de mim podem falar?
de nada vale ter os risos dos de em volta
se é teu sorrir que eu quero em meu caminho
é teu abraço que eu quero como escolta
enchendo o mundo onde eu antes era sozinho.

e se no mundo onde vivemos não há espaço
prontamente o meu amor vem nos soprar
um mundo novo, não feito d'ouro ou de aço
mas um suspenso, feito de notas, mundo de ar.
já qu'é entre todos os que aqui estão agora
que nasceu o amor de que hoje escrevo,
seja entre eles que decidamos ir embora
p'ra o nosso lugar de sombras em relevo.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

_''a'' de aberto

E que venha, pois, o fim de tudo.
Venha o rei com seus cetro e ponteiros.
Chegue a mim o senhor das vozes, o rei mudo
aporte o dono das beiradas, dos mundos inteiros.


Seja eu o confessor dos erros todos
seja eu o ator em palco alheio.
Decoro as falas, cedo o corpo meu sem modos
sou a montaria, desnuda de seu arreio.


Eu sou a frase de cansaço do desistente
sou o suspiro do que não quer mais.
sou o canto de ''chega'' dessa gente
eu sou aquele que ficou p'ra trás.


eu sou a rima sem metros e belezas.
sou as linhas que o sóbrio não gerou;
eu sou o moço ébrio de feitos e proezas
sou o sino que, no topo, não tocou.


Eu sou o verbo intrasitivo, a oração;
não careço de complementos e adjuntos
eu sou o ponto, sou a vírgula, o 'sim' e o 'não'
eu sou o meio e o fim destes assuntos.


Eu sou as letras que não cabem no recado;
eu sou aquele que não sabe o que se é.
Sou o samba, sou o choro, sou o fado.
Sou o 'oi', sou o 'cai fora', sou o 'né?'


Eu sou muitos e sou poucos, ego sum!
Sou o tesouro e a pobreza, sou metal.
Sou alguém, sou poeta, sou nenhum,
sou a obra que termina, sou letal.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

_dublado

E é o seu rosto que me vem quand'eu tudo paro
As notas sopradas e as músicas que fizemos...
O silêncio para o qual tomo fôlego e declaro:
Os segredos que gritamos quando, quietos, nos vemos.
E eu caio naquele mesmo limbo de memórias
Dano a recitar as linhas ainda por escrever.
Canto bem alto, conto no salto as nossas histórias
Falo (d)àquela que não sei se posso ter...
Rezem por mim, ó leitores a quem dou segredo;
peçam por este que confessa o que há em si!
Poetas não podem pintar os seus quadros com tint'e com medo;
este não consegue ditar os seus mundos quando ela sorri.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

_espontâneo

E o que fazer se a tua vontade é morte
mas tudo o que a essência quer é vida?
O que intentar se o externo parece forte
se aparenta não valer a pena a ida?!
Mas eu bem sei que o caminho é de sangue
entendo bem que mui estreita é a porta
E se nego o que me ofereces, não se zangue
É que a moldura, do lado daí, parece torta.

Experimente olhar do meu lado do espelho
encare a morte donde a vida se inicia.
eis a estaca no chão, o firme artelho
eternidade é o que a estaca propicia.
não, não caia onde outros já tombaram
seja o sangue deles triste aviso:
''Aqui odiamos onde tantos outros amaram
aqui o nosso sangue untou o piso..."

e no fim da caminhada há uma nação
lá o ouro pinta o piso e cobre as ruas...
etnia sem tribo, rosto ou nomeação
noites de risos e de nuncas vistas luas.
lá o fim nunca experimenta início
lá o sedento bebe d'água que não finda;
braços erguidos ao Eterno é o ofício
deste povo que cantava e canta ainda.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

_justo

mente e razão, mente, coração!
sente a semente que brota sem fim;
repete o repente, refaz o refrão
dê um trato no quarto, vem morar em mim.

sai da lembrança do que não viveu
escreva comigo nossas letras 'stórias
levo a você o que ainda não leu
escrevo e vou ser nossas belas memórias
o tanto que separa o que tive do que não
os anos entre o primeiro 'oi' e um adeus
retornam como a chuva que nasce do chão
pra logo depois cair da morada de Deus.

e como quero te escrever coisas não lidas
como quero fazer conhecidos os segredos
quero escrever, beber e ouvir o som de vidas
quero dizer o que há na mente, longe dos medos.

és a porta para a paz tão procurada
és as linhas qu'inda quero saber de cor.
olho atrás e vejo tão percorrida estrada,
só que à frente repousa um caminho ainda maior.
mas que não viva o poeta só de sonhar
que não esteja o conforto dele só na escrita
queira o fiho aquilo qu'o Pai desejar,
pois quando o corpo silencia, a alma grita.

e termina a confissão justificada
caverna onde o poeta ergueu seu canto.
eis aqui sua alma em fogo grafada
eis o poeta, que em vergonhas se fecha em seu manto.


p.s.: àquela que eu conheci duas vezes e com quem, hoje, divido a mesma fé e a mesma segunda voz nas músicas!

segunda-feira, 25 de julho de 2011

_madrugada

eu fui até você quando o vento mandou

eu queria mais de você e menos de mim

não ser meu é tudo o que de mim restou

e o meu desejo é qu'em você eu não tenha fim.



no mar mais brando, a vaga ergue a voz e canta

espuma dá beijos que desaguam n'areia de nós.

penso que para mim a madrugada é a hora santa

sei que você quer também a praia e o silêncio da voz.



e na terceira palavra de cada verso

exceto aqui, cujo foco é o verso de fim

defino a mensagem, cifrando o nosso universo

quero-a novamente, como 'inda não a pude ter assim.

terça-feira, 19 de julho de 2011

_solúvel

abriu a porta, foi me dizendo pra entrar
logo eu que nunca tive nenhuma cerimônia.
entrei abraçando as paredes de meu próprio lar.
vinha eu vestido de lembranças, choros e insônia.


vi nos seus olhos o homem que um dia eu fui
ela mesma se lembrava do que nem vivemos.
é estranho erguer um castelo que cai e rui
bem mais estranho ser rei d'um reino que não mais temos.


e o nosso 'nós' de tão rápido foi, tornou-se um 'eu'
as feridas ora gritam que o passado foi bom (e é)
o toque primeiro, o primo olhar, você me leu
eu te escrevi no fundo de minha xícara de café...


hoje o nosso aceno não mais nos aproxima ou canta
ontem a ameaça de não mais existir é tão bem clara
que de cima de nosso frio eu posso despir a manta
e o amanhã qu'agora se ergue é surdo de sons, música cara.


um quarto em penumbra, sem cama ou documentos
registra o memorial do amor que não chorou
vimos nascer doze livros com os nossos momentos
e ontem na rua, caiu-me do bolso o que você não achou


volume treze das esquinas que percorremos
você me pedia pra esquecer o pudor e dançar.
eu olhava tudo, todos os lados. Agora o que temos?
um quadro de penas e lembranças lançadas ao ar.


p.s.: vídeo-conto de Marcos Farion, inspirado no conto de Maíra Viana que, por sua vez, se inspirou na música de Fernando Anitelli que, por sua vez... 

sábado, 9 de julho de 2011

_quadra do frio

"O futebol me soa como um vício quase tão fútil quanto o do cigarro. A diferença é que, quanto ao fumo, eu posso fazê-lo parado..."

- Amigão, um maço de Lucky Strike, por favor?!


"What a pretty and monochromatic artist the cigarette is. Made my hands yellow, made my teeth yellow, but for my lungs he kept safe the best colour: B.L.A.C.K.
Mas que belo e monocromático artista o cigarro é. Amarelou-me os dedos, amarelou-me os dentes, mas p'ros pulmões salvaguardou a melhor cor: P.R.E.T.O.

Eu fiz, eu fiz um lema. Efi... Efisema!"

- Pois não. De qual?

- Hm, vermelho, vermelho.
- It's toasted!

sexta-feira, 8 de julho de 2011

_filha do sol

Para o dente-de-leão,
que me mostra quão livres podem ser os elementos,
com um simples bater de asas
do vento....

e nada de novo há de nascer
em solo onde o mesmo é semeado;
o que ora vive, já é sabido qu'irá morrer
o que virá, durante um piscar, será passado.
Nasce a flor e é viva em suas cores,
dona de si e de beleza que não finda;
mas dura a rosa como duram os amores,
hoje mesmo cai a rosa, hoje ainda.

Espere, pequenina, a dor já passa.
Ontem mesmo não te sangrava o coração.
Terás amor, por qual não cobro e, de graça
seremos ambos livres num limbo sem danação.

Dê-me tua mão, pequena, ande comigo.
Siga o caminho, véu que minha voz teceu;
sou teu poeta, teu pastor; meu canto de amigo
não é mais d'outros: quero que seja p'ra sempre seu.
E acaba a lira ante os olhos do céu e do mar.
Encerra-se, o poeta, sob olhar do vento e da terra.
Que trema tudo, que rua o mundo quando ele falar,
rezam as ninfas que, quando o fim cala, o início berra!

quinta-feira, 7 de julho de 2011

_ode à noite congelada

"Sr. V: - Eu sei fazer pão de cebola! Sabe como eu faço?

Sr. J: - Hmm... com pão e cebola?

Sr. J/P: huauhauhAhuahuahuAUHHUaUAuhHUAHuHUAHuHUAhuHUAhuHUA³

Sr. V: - ¬¬. Vô esperar vcs acabarem de rir.

Sr. J: - Se não é com isso, vai ter que mudar de nome!"

"Sr. J: - Aqui... é 'monotomia' ou 'monotonia'?

Sr. P: - Monotonia, cara; o outro não existe...

Sr. V: - Monotonia? Motonomia? Na moto não mia; ih alá, o gato na moto não mia HAHAHA

Sr. J: - ...

Sr. P: - ..."



Sr. P: "- Eu não perguntei o que era ruminar!"


e longe vai a barca...


p.s.: este trechinho é apenas uma pequenuta homenagem a três amigos que, no fundo, podem ser eu, você, outros...^^

sexta-feira, 1 de julho de 2011

_soneto da contemporaneidade

''De tudo ao meu amor serei atento...''
- Porra nenhuma!
Em meu amor, nunca encontrei alento
...sequer verdade alguma.
"Com tal zelo e sempre e tanto...''
- Zelo é o caralho!
Meu amor nunca me envolveu num manto
Ele é falho!


''Quero vivê-lo em cada vão momento....''
- Quero nada...
E como não quero, finjo que quero, invento...
O meu amor é uma sacola furada!!
"Quem sabe a morte, angústia de quem...''
- Vive?!
Você não sabe o poder qu'angústia tem,
menos ainda sabe onde eu estive.
O amor, amigo, é vento que vai e vem;
é ferida, é chaga aberta, é dor e chama
é u'a lista de hipérboles que fim não tem
é um quarto trancado às escuras, onde não há cama...

domingo, 19 de junho de 2011

_loas ao léu

E é agora que encaro o copo fundo

Que eu vejo o meu eu desaparecer:

Entendo a arte mais antiga do mundo

Milênios de copos, de cachaças, de beber.

Ergo a voz em plena taberna e berro

‘’amigos, nem tudo que reluz é ouro,

Como é certo que a gente n’é de ferro,

E que nem tudo que tem chifre é touro!”

Pedra dura e água mole tanto batem

Que é visão boa só pra quem gosta,

Bem como os cães que não mordem e só latem;

Em rio de piranhas, jacaré nada de costa!


A bebida age, tem as rédeas e vou ao banheiro

Nas paredes do antro eu vejo placas e escritos

Sobre o espelho, há escrito um verso inteiro

Paro p’ra ler e saio dali rindo aos gritos.

Dizia a inscrição mui bem bolada

Sob um aviso ‘’Favor deffecar na latrina’’

Em relação à letra ‘f’ duplicada

E eu bem ri como quem ri de sua sina


Eis o aviso:

“Quero saber o mequetrefe
que escreveu tal maravilha
Pois quem caga com dois éfes,
limpa o #$ com CE cedilha’’


E eu bem ri e a todos fui contando

Desesperado, como se o pai da forca fosse tirar

Todo o bar ria conforme eu ia gritando

‘’é hoje, amigos, que a cobra vai fumar!”

Então eu, dando ‘bom dia’ com chapéu alheio

Resolvi que meus amigos precisavam beber

Não tinha dinheiro sob minha posse, não havia meio.

Não tendo cão, com o gato deve-se proceder!

domingo, 12 de junho de 2011

_breve conto duma tarde domingueira

Castigue os pés e depois liberte-os: terás a felicidade barata!

Machado o disse pela voz de Brás Cubas; eu o digo pela voz de um comecinho de tarde de domingo, em que se sai para comprar cigarros, porque o seu irmão colocou um dinheirim na sua conta.

Nada de melhor há que isto. Voltar todo o trajeto qual antigo trem que, certo do caminho que traçará, só faz lançar espaças e esporádicas porções de fumaça ao ar.

Ê vida que segue, e sigo eu os segundos dela, ou ela me segue numa dança em que trocamos, vez ou outra, as funções de cada par.

Subo minha rua, vejo casais, vejo pessoas, vejo-me, então, em cada um que também me vê.

E neste instante, neste mundo que dura dois segundos, há a eternidade no piscar dos olhos; sou o cigarro no meu bolso, sou a fumaça no pulmão, sou o casal na calçada outra, sou a tarde que começa e o dia que termina. Sou tudo e todos em mim, e neles também eu sei que sou. Posso ser o frio ou o calor, a mentira ou a verdade, amar na mesma medida que odeio, sorrir no mesmo tom em que choro, canto o pranto.

Posso ser o que quiser, e, principalmente, o que não quiser. Mas antes de tudo isto, eu mesmo me abraço, ergo ao mundo a voz pra bradar, não me importa se ouvirão, porque o que quero, é o que já tenho; antes e depois de tudo, eu sou. Eu sou...

sexta-feira, 3 de junho de 2011

_farra

Eis que o acaso reservou belo presente

Num encontro tão fortuito quanto o do vento

Que nos toma sem que ao menos nossa mente

Saiba dizer em quantos mundos se divide um momento

Como quem sorri enquanto dorme ela surgiu

Numa esquina a mais do trajeto a encontrei

Numa curva do rio em que nado, ela, sutil

Cativou-me qual o Príncipe Pequeno que vira Rei.


Levou-me a algo ond’eu não era esperado

E lá fiquei, pois com ela estava o mundo.

Esmolando seus risos, o poeta ‘convidado’

Soava notas com sua flauta e seu querer profundo.


E é seu corpo desenhado que quero percorrer

Cada traço dela quero em mim, como um escrito

O céu laranja da madrugada diz que não posso ter

O que hoje vi e pareço querer em mim, admito!

‘’Farra’’, eis teu nome em sílabas invertido

E as lembranças daquela noite eu quero em mim.

Mas ainda mais, quero o que não foi dividido

O beijo de ambos, o gosto do riso, o dar-se sem fim.

sábado, 28 de maio de 2011

_identidade

Sou, pois, escravo daquilo que me urge;
E quando encaro os ponteiros que fogem no lugar,
É desespero e sede o que em mim surge
E atrás de tudo qu’inda não tive dano a voar.

Eu sou o frio em cujas mãos não há calores.
Sou o dono das vontades que gritam na mente.
No meu abraço, o apaixonado prova das dores
Que só em quimeras sob a terra o poeta sente.

Em minhas posses eu carrego a tormenta
E nos campos onde piso, tudo fenece.
Chamo-me Peste, mas meu canto acalenta
O que deixa de acordar e de tudo se esquece.

Muitas vidas neste globo eu já tive
Inúmeros rostos já assumi e nomes tantos
Que me cobiça o que só uma vida vive
E por mim clama, em todo perdido canto.

Mas a trova dura enquanto o bardo respira
E se o barco que se avizinha é de quem penso
Eis que chega com ele o fim do canto e da lira.
Nascerei de novo, em pranto muito maior... imenso.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

_espaço /1/2/

Confessa o poeta, dum tempo de tristeza
tempo à parte, onde ele em suspensão
vivia à margem de tudo, comia à mesa,
tristezas e golpes, estranh' amassado pão:
E ela não vê o mal que me faz
quando em frente de todos me rebaixa
joga no rosto de seu amado lembranças de trás
e na frente deles sou mais um quem ela marcha.

até quando não vais ver que estou ferido?
que me dói beber daquilo que você fala?
que no silêncio de nós dois eu sou querido,
mas aos olhos deles o seu amor se cala.

eu bem sei o peso que a palavra tem
afinal na letra eu também sei esculpir.
mexo em versos, encho universos, meu bem.
fecho-me em ira quando você só me quer pr'ouvir.
já não mais sei quais de mim estão expostos
seu lindo riso, antes comigo, agora é de mim;
em volta da mesa sou mais um no mar de rostos,
meu choro é só outro e você parece fazer não ter fim

[...]

quarta-feira, 4 de maio de 2011

_pio

Dá-me forças p'ra eu ser maior que eu
mostre saída a essas paredes de martírio.
Quero vencer como nenhum outro homem venceu:
Vem desnudar-me dessas roupas de delírio
Castigaram-me as costas com ofensas
e recebi uma coroa que não era minha.
Do céu me desceram acusadoras presenças,
fui feito Rei e ao meu lado não via Rainha.

Provei a dor de multidões 'inda não nascidas
e, de joelhos, a prece ouvida não era por mim.
Mãos e pés, costas e testa, só havia feridas:
o manto de dor, de erro e loucura não tinha seu fim.
Eis que então soltei o clamor em mim guardado
Reti a dor, verti o sangue, não ouvi meu 'ai':
"Estou eu aqui, tu me tens abandonado...
...que o céu que ri esconda a face de choro do Pai."

sexta-feira, 29 de abril de 2011

_janela

Atrás de mim há uma trilha d'orgulhosos
à minha frente há dois caminhos a seguir:
um, eu aceito o sorriso dos fervorosos
dois, eu tomo a senda que me faz sorrir.
Vivi meus anos querendo o riso dos que me viam
colhi dos atos qu' eram meus o bom dizer.
Mas como vivo se, em mim, os que sorriam
querem de mim o eu que eu bem sei não querer ser?

A vida quero, não a morte das vontades
viver espero pela sombra do meu escolher.
Quero que fujam de mim os reis de idades
em cuja coroa não posso ser quem quero colher.

Que posso eu fazer p'ra que te agrades?
se o eu de antes a mim mesmo nunca agradou...
Vejo hoje preso o meu querer em suas grades
no fim de tudo, na liberdade, qu'escolha restou?
E o amor, que era p'ra ser dono de abraços
traduz-se agora num mar de estranhas proibições.
No vasto campo que imaginei só vejo laços,
quando suas palavras mostram qu'eu te trouxe decepções.

domingo, 3 de abril de 2011

_recado

“Sonhei com você”, ele disse e eu não sabia

Da verdade que ele escondia sob o olhar;

Pensar em outro que a via como eu vejo, eu queria

Que ele não tivesse é coragem de sonhar.


Por que ele quer o que não pôde cultivar?

Por que deseja o sonho que eu realizei?

Sonhe, maldito, com as ondas vermelhas de meu mar.

São seus os punhos e armas que guardei.

Só eu sei o que se passa quando eu vejo

Que ele guarda p’ra ela aqueles olhares

A agonia, a raiva, de saber que é desejo

São piores que respirar o pior dos ares.


Rasga-me à uma, mata-me por dentro,

Mas não me deixe à porta do medo.

Eu sou o que marca, do início ao fim, o centro

Com a corda ao pescoço, eu busco a morte mais cedo.


E a mente não trabalha como espero

os olhos, já não mais, limpos do ciúme

eu não olho, não ouço, finjo que quero,

fujo da dor de vê-lo te ver, como quem sobe um cume.

Como posso pensar quando o outro tem intenções

Que não são metade da bondade que aparentam?!

Vejo o abraço que ele dá, as mãos, dois vilões

E aí já sei que os sonhos dele só aumentam


Ele quer roubar o que eu escrevi p’ra mim

Ele quer o nome dele nas cartas que ela me envia

Continue assim, amigo, e escreverei o seu fim:

Ao menos nos versos eu posso te dar agonia.


E na oitava estrofe quero pensar que você some

Das palavras dela, daquilo que ouço, de nosso céu

Quero dizer que pouco me importa ouvir de teu nome

Não ligo pra rima, quiçá em dizer que teu nome é

sexta-feira, 1 de abril de 2011

_suspeito

Não será assim como então pensei
quando olhava para o fim do caminho
e com um sonho estampado no rosto
Fantasiava não terminar sozinho.
Eis, pois, amigo aonde eu cheguei
nessa terra onde um gigante é um moinho.
e de realidade o sonho tem seu gosto
e o dar de mãos é já um desalinho.

Assim fica o meu castelo: sem trono e sem rei
fica o meu manto sem luxo e sem linho.
também o espelho não mostra mais meu rosto
e o abraço, tão protetor, não tem mais tom de ninho.
Com pesar penso em tudo que viverei
ergo a taça e afogo meu choro no vinho;
e o poder de fazer esquecer tenho no mosto
e é esquecido todo afago, beijo, carinho.