Castigue os pés e depois liberte-os: terás a felicidade barata!
Machado o disse pela voz de Brás Cubas; eu o digo pela voz de um comecinho de tarde de domingo, em que se sai para comprar cigarros, porque o seu irmão colocou um dinheirim na sua conta.
Nada de melhor há que isto. Voltar todo o trajeto qual antigo trem que, certo do caminho que traçará, só faz lançar espaças e esporádicas porções de fumaça ao ar.
Ê vida que segue, e sigo eu os segundos dela, ou ela me segue numa dança em que trocamos, vez ou outra, as funções de cada par.
Subo minha rua, vejo casais, vejo pessoas, vejo-me, então, em cada um que também me vê.
E neste instante, neste mundo que dura dois segundos, há a eternidade no piscar dos olhos; sou o cigarro no meu bolso, sou a fumaça no pulmão, sou o casal na calçada outra, sou a tarde que começa e o dia que termina. Sou tudo e todos em mim, e neles também eu sei que sou. Posso ser o frio ou o calor, a mentira ou a verdade, amar na mesma medida que odeio, sorrir no mesmo tom em que choro, canto o pranto.
Posso ser o que quiser, e, principalmente, o que não quiser. Mas antes de tudo isto, eu mesmo me abraço, ergo ao mundo a voz pra bradar, não me importa se ouvirão, porque o que quero, é o que já tenho; antes e depois de tudo, eu sou. Eu sou...
Sou. O infinito ainda limitado. Sou tudo e quero tudo. Nada menor me satisfará. Quero entender o que sou. Quero ser pleno. Dançar com a vida. Traçar meu próprio caminho. Erro, conserto, erro, conserto. Entendo, finalmente me entendo. Sou eu, sou você, sou essência, sou o que remanesce, o que une, o que sente, o que cheira, o que vê, o que entende. Somos.
ResponderExcluirUau! Que divino! Não se discute que tem gente que nasce pra escrever. Estou me deliciando com todos os seus posts. Hahaha...
ResponderExcluirA nostalgia enriquece de uma forma tão brilhante a linguagem poética. Lindo, lindo!
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