sábado, 24 de julho de 2010

_espera

Sinto falta do abraço,
Daquela qu’eu chamo de amor.
Pois na minha linda encontro eu regaço
E em seu rosto, nunca houve dor…

À minh amada eu dedico
O que sei qu’ela não merece,
Pois o amor, que sinto e não explico
Queria que fosse maior, essa é minha prece.
“Amor, meu grande amor…”
dizia a poesia armada,
Amor minha grande razão de dor,
“…não chegue na hora marcada”.

Pois em cada sorriso teu,
Saiba que eu pude me esconder, mulher.
Você é aquela por quem meu coração cedeu;
És desejo que todo amante quer

sexta-feira, 23 de julho de 2010

_conforto

Eu sinto suas mãos me envolverem
E volto a pensar que estou vivo...
Percebo passos, não mais meus, tremerem,
Quando ouço os sussurros que não digo.

Eu procuro o verso qu’ é perfeito
Erguendo gritos ao vento intermitente,
Não sinto mais o abraço e me deleito
Com sua voz, qu’ inda existe, insistente.
Só há lembranças de um tempo que vivi,
Parcos desenhos e sombreados nus...
Borrões se erguem reclamando o que eu vi
Num céu de poucas nuvens, escassos azuis.

Ela e eu – vivo corpo num delírio;
Diz a memória que me testemunha a dor.
Ela e eu, não existimos mais: martírio.
...ainda te amo, e isso prova todo o ardor...

quarta-feira, 21 de julho de 2010

_primogênito etílico

E se não me resta amor,
só o abraço da melancolia,
os tristes beijos de dor
da dama que se chama boemia.
E nessa dança de passos trocados
vou sôfrego e carente a descobrir
que os copos todos rotos, esvaziados
refletem o amante que fui e vejo se ir

nas esquinas de uma rua mais vazia
que os copos da estrofe anterior
eu me perco na lembrança sempre fria
de que existe aquele triste que chamo de amor.

O mesmo de que disse 'não me resta'
o mesmo que é matéria pr'escrever
o mesmo que marca os poetas à testa
o mesmo que nos mata sem morrer
E a que me encerra entre amor, medo e fumaça
é essa senhora de dor, risos e paixão;
essa meiga dama, que insisto em dizer, a cachaça
que me roga e me afoga, no fundo do garrafão.

Penso nela nos tropeços que eu dou,
sou carregado por braços que não vi;
percebo então que o destino meu chegou
peço a todos, ''por favor, larguem-me aqui”

''Larguem-me aqui, com a dama que me passa
deixem-me só com a deusa de meus sonhos
pois não vejo outra senhora, mas a cachaça,
que traz luz a meus delírios mais medonhos''

quarta-feira, 14 de julho de 2010

_rito duma lágrima

Há uma lágrima que, contida
Faz seu trajeto em meu rosto, gotejante;
Vejo um sentimento antigo e sem vida
Que ressuscita-se a si, do pó, errante.
Há a confusa certeza da derrota
E a troca dos papéis uma vez mais…
…há catedrais que desmoronam à minha volta
Além de sinos que se ouvem… não se ouvem mais.

É confuso, volta, retorna e se vai,
Mas, na verdade, nunca saiu de seu posto.
Então como pode ter essa força que me atrai?
Maldito sentimento, que, confuso, é meu desgosto.

Então eu desço àquela escadaria,
Que é palco de todo o meu desejo…
…desfruto das gotas dessa espúria agonia
e mostro-me vencido diante do que vejo.
Mas logo que ela vem, traz,
Sob seus belos risos, salvação.
Traz também beleza, força, calmaria e paz…
Conduz-me ao encanto de um perdoado coração.

E o perdão, emoção tão esquecida,
Torna-se, com ela, sentimento primo…
…quando, puro, a amo e me perco em minha vida.
E a escalo, sem medo, pronto a alcançar-lhe o cimo

sábado, 3 de julho de 2010

_bordados

foi como se pela vez primeira a visse,
e o riso qu'amo, como antes, iluminou
trazendo luz ao qu'era meu, e ela disse
''ontem à noite, meu coração, contigo, ficou.''

e com medo de quebrar o sacro encanto
minha resposta foi o silêncio que diria
muito mais que palavras bordadas num manto
muito mais que todo o sol presente num dia.
e já que o poeta é tão grande quanto sua dor
imagine a grandeza deste que aqui se derrama
quando ela disse ''não posso ser toda deste amor,
não posso, pois há ainda um que me ama.''

mas o choro não foi maior que o riso
nem a dor foi capaz de vencer o momento
quando os amantes entenderam que era preciso
olhos no hoje, beijos no agora. O depois é tormento.
mas há problemas em sonhar, um só apenas
é que fechar os olhos nunca pode ser eterno
então os sonhos vão embora, vão em dezenas
e toda a sombra que é do céu se veste d'inferno.

veio a mensagem, fria como a despedida
virtual, como o é, sempre, o não...
''Nunca fui tua, assim termina nossa ilíada;
e digo, nua, que hoje quero o de antes da paixão.''