segunda-feira, 26 de setembro de 2011

_escassO

meu velho amigo de sempre, puxe uma cadeira
tens ao meu lado o teu lugar cativo.
passe comigo esse resto de noite inteira
eu sinto a falta daquele teu humor nocivo.

faz tanto tempo que te não ouço falar
hoje o silêncio é a herança da nossa amizade.
esse som ao fundo é a harmonia dos filhos do ar
dos deuses de concreto da cidade.
é essa marcha que se ouve aqui ao fundo
o som dos anos que, pacientemente, ouvi.
hoje o caminho que trilhei é, pois, imundo
rareiam as rimas qu'eu um dia escrevi.

sabe quando o compromisso se lhe escapa
bem como corre aquele verso outrora destro?
e a maestria que me soava qual nobre capa
hoje é carrasco no tal mundo que eu mesmo mestro.

sabe quando tudo ri, mas falta algo?
sabe quando, mesmo ali, o sonho ecoa
e vai indo, se esvaindo, indo...foi
(e a rima de antes já não sabe ser tão boa?)

naquela hora em que a noite ousa ir alta
o mundo aquieta e é o poeta o único que fala.
na exata hora entre o que se tem e o que falta
no tempo preciso em que o mais nobre orador se cala...
reter essências é a arte do que escreve,
do que abstrai das ideias o coração.
daquele mesmo, que, madrugada'dentro, se atreve
a colher, em pleno silêncio, o dom da canção.

e a saga segue, o rio ruge e o céu, em cisma
os seres nomeia, no meio deles logo some
e do seio irado vê-se fluir o crisma
qu'é a alva penha, trazendo consigo um novo nome.

sábado, 24 de setembro de 2011

_correDOR

e, se aos olhos alheios, te amar será estranho
é sem a aprovação deles que posso caminhar.
que lhes importa se em teu abraço eu me banho
deve-me valer o que de mim podem falar?
de nada vale ter os risos dos de em volta
se é teu sorrir que eu quero em meu caminho
é teu abraço que eu quero como escolta
enchendo o mundo onde eu antes era sozinho.

e se no mundo onde vivemos não há espaço
prontamente o meu amor vem nos soprar
um mundo novo, não feito d'ouro ou de aço
mas um suspenso, feito de notas, mundo de ar.
já qu'é entre todos os que aqui estão agora
que nasceu o amor de que hoje escrevo,
seja entre eles que decidamos ir embora
p'ra o nosso lugar de sombras em relevo.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

_''a'' de aberto

E que venha, pois, o fim de tudo.
Venha o rei com seus cetro e ponteiros.
Chegue a mim o senhor das vozes, o rei mudo
aporte o dono das beiradas, dos mundos inteiros.


Seja eu o confessor dos erros todos
seja eu o ator em palco alheio.
Decoro as falas, cedo o corpo meu sem modos
sou a montaria, desnuda de seu arreio.


Eu sou a frase de cansaço do desistente
sou o suspiro do que não quer mais.
sou o canto de ''chega'' dessa gente
eu sou aquele que ficou p'ra trás.


eu sou a rima sem metros e belezas.
sou as linhas que o sóbrio não gerou;
eu sou o moço ébrio de feitos e proezas
sou o sino que, no topo, não tocou.


Eu sou o verbo intrasitivo, a oração;
não careço de complementos e adjuntos
eu sou o ponto, sou a vírgula, o 'sim' e o 'não'
eu sou o meio e o fim destes assuntos.


Eu sou as letras que não cabem no recado;
eu sou aquele que não sabe o que se é.
Sou o samba, sou o choro, sou o fado.
Sou o 'oi', sou o 'cai fora', sou o 'né?'


Eu sou muitos e sou poucos, ego sum!
Sou o tesouro e a pobreza, sou metal.
Sou alguém, sou poeta, sou nenhum,
sou a obra que termina, sou letal.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

_dublado

E é o seu rosto que me vem quand'eu tudo paro
As notas sopradas e as músicas que fizemos...
O silêncio para o qual tomo fôlego e declaro:
Os segredos que gritamos quando, quietos, nos vemos.
E eu caio naquele mesmo limbo de memórias
Dano a recitar as linhas ainda por escrever.
Canto bem alto, conto no salto as nossas histórias
Falo (d)àquela que não sei se posso ter...
Rezem por mim, ó leitores a quem dou segredo;
peçam por este que confessa o que há em si!
Poetas não podem pintar os seus quadros com tint'e com medo;
este não consegue ditar os seus mundos quando ela sorri.