segunda-feira, 26 de setembro de 2011

_escassO

meu velho amigo de sempre, puxe uma cadeira
tens ao meu lado o teu lugar cativo.
passe comigo esse resto de noite inteira
eu sinto a falta daquele teu humor nocivo.

faz tanto tempo que te não ouço falar
hoje o silêncio é a herança da nossa amizade.
esse som ao fundo é a harmonia dos filhos do ar
dos deuses de concreto da cidade.
é essa marcha que se ouve aqui ao fundo
o som dos anos que, pacientemente, ouvi.
hoje o caminho que trilhei é, pois, imundo
rareiam as rimas qu'eu um dia escrevi.

sabe quando o compromisso se lhe escapa
bem como corre aquele verso outrora destro?
e a maestria que me soava qual nobre capa
hoje é carrasco no tal mundo que eu mesmo mestro.

sabe quando tudo ri, mas falta algo?
sabe quando, mesmo ali, o sonho ecoa
e vai indo, se esvaindo, indo...foi
(e a rima de antes já não sabe ser tão boa?)

naquela hora em que a noite ousa ir alta
o mundo aquieta e é o poeta o único que fala.
na exata hora entre o que se tem e o que falta
no tempo preciso em que o mais nobre orador se cala...
reter essências é a arte do que escreve,
do que abstrai das ideias o coração.
daquele mesmo, que, madrugada'dentro, se atreve
a colher, em pleno silêncio, o dom da canção.

e a saga segue, o rio ruge e o céu, em cisma
os seres nomeia, no meio deles logo some
e do seio irado vê-se fluir o crisma
qu'é a alva penha, trazendo consigo um novo nome.

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