domingo, 12 de junho de 2011

_breve conto duma tarde domingueira

Castigue os pés e depois liberte-os: terás a felicidade barata!

Machado o disse pela voz de Brás Cubas; eu o digo pela voz de um comecinho de tarde de domingo, em que se sai para comprar cigarros, porque o seu irmão colocou um dinheirim na sua conta.

Nada de melhor há que isto. Voltar todo o trajeto qual antigo trem que, certo do caminho que traçará, só faz lançar espaças e esporádicas porções de fumaça ao ar.

Ê vida que segue, e sigo eu os segundos dela, ou ela me segue numa dança em que trocamos, vez ou outra, as funções de cada par.

Subo minha rua, vejo casais, vejo pessoas, vejo-me, então, em cada um que também me vê.

E neste instante, neste mundo que dura dois segundos, há a eternidade no piscar dos olhos; sou o cigarro no meu bolso, sou a fumaça no pulmão, sou o casal na calçada outra, sou a tarde que começa e o dia que termina. Sou tudo e todos em mim, e neles também eu sei que sou. Posso ser o frio ou o calor, a mentira ou a verdade, amar na mesma medida que odeio, sorrir no mesmo tom em que choro, canto o pranto.

Posso ser o que quiser, e, principalmente, o que não quiser. Mas antes de tudo isto, eu mesmo me abraço, ergo ao mundo a voz pra bradar, não me importa se ouvirão, porque o que quero, é o que já tenho; antes e depois de tudo, eu sou. Eu sou...

3 comentários:

  1. Sou. O infinito ainda limitado. Sou tudo e quero tudo. Nada menor me satisfará. Quero entender o que sou. Quero ser pleno. Dançar com a vida. Traçar meu próprio caminho. Erro, conserto, erro, conserto. Entendo, finalmente me entendo. Sou eu, sou você, sou essência, sou o que remanesce, o que une, o que sente, o que cheira, o que vê, o que entende. Somos.

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  2. Uau! Que divino! Não se discute que tem gente que nasce pra escrever. Estou me deliciando com todos os seus posts. Hahaha...

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  3. A nostalgia enriquece de uma forma tão brilhante a linguagem poética. Lindo, lindo!

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