quarta-feira, 26 de outubro de 2011

_locaL

O velho entra pela sala onde estou eu
declara a mim que eu nunca serei
aquele antigo outro nome qu'era meu
aquele outro dono de tronos, cetros: rei.

Em sua fala eu noto o poder das eras,
dos ponteiros, implacáveis escultores
seu rosto é banquete, as rugas, as feras
seu corpo todo foi tomado pelas dores.
Continua a discursar, o falecido
sim, pois já morto, esquecera-se do esquife
é como um barco naufragado, carcomido
por demônios moradores dum recife.

Suas palavras me ferem, pois é verdade:
vem o tempo e, mal o vemos, já se foi.
deixa sua marca, assina rubrica na vaidade
o tempo é um eternizado eco de ''oi?''
Enfim eu noto que o velho está vestido
tal como estou, da cabeço até o artelho.
O velho intruso no meu quarto escondido
no fim sou eu a gritar para o espelho.

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