terça-feira, 19 de julho de 2011

_solúvel

abriu a porta, foi me dizendo pra entrar
logo eu que nunca tive nenhuma cerimônia.
entrei abraçando as paredes de meu próprio lar.
vinha eu vestido de lembranças, choros e insônia.


vi nos seus olhos o homem que um dia eu fui
ela mesma se lembrava do que nem vivemos.
é estranho erguer um castelo que cai e rui
bem mais estranho ser rei d'um reino que não mais temos.


e o nosso 'nós' de tão rápido foi, tornou-se um 'eu'
as feridas ora gritam que o passado foi bom (e é)
o toque primeiro, o primo olhar, você me leu
eu te escrevi no fundo de minha xícara de café...


hoje o nosso aceno não mais nos aproxima ou canta
ontem a ameaça de não mais existir é tão bem clara
que de cima de nosso frio eu posso despir a manta
e o amanhã qu'agora se ergue é surdo de sons, música cara.


um quarto em penumbra, sem cama ou documentos
registra o memorial do amor que não chorou
vimos nascer doze livros com os nossos momentos
e ontem na rua, caiu-me do bolso o que você não achou


volume treze das esquinas que percorremos
você me pedia pra esquecer o pudor e dançar.
eu olhava tudo, todos os lados. Agora o que temos?
um quadro de penas e lembranças lançadas ao ar.


p.s.: vídeo-conto de Marcos Farion, inspirado no conto de Maíra Viana que, por sua vez, se inspirou na música de Fernando Anitelli que, por sua vez... 

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