sábado, 25 de dezembro de 2010

_se um mês

És a que me faz nadar em medo e pavor

Em todo o tempo em que o riso ameaça ir.

Mas é nas horas de seus gritos, brigas e dor

Que eu sei ser eu o que te faz, também, sorrir.

É de um mundo que não chamo mais de meu

E o meu canto é sempre e tanto à mesma voz:

''eis, vem vindo, que o amor, que esperei, aconteceu

Eu e tu se mesclam tanto que me visto de nós


Sim, eu temo, temo muito, temo o indício

De ver outros pés no caminho que traçamos:

Sonho você lá no meu fim, como no início

E o seu sim presente em mim, passados os anos.

Se o mês ou o mais passa e assim nem vejo

É porque tenho quem me separe do perigo,

É porque tenho quem leve consigo o meu desejo

De ver em rosto, além do meu, o próprio abrigo.


É como um ritmo sem regras, mão sem luva

Transe que vem sem que ao menos seja visto;

É como beber, em liberdades, d’água da chuva:

Te ter em mim é o final esperado e bem quisto.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

_corrente

Eis o primeiro poema do novembro

O grito quieto de tempos antes vem agora

É de escrita e de convenção que lembro

Eis o querer falar de tudo e ir embora

Duma levada só vem meu dizer guardado

Tudo que pôde aconteceu nesta só vez

Há vontade de dizer tudo, e irado

Vem o relato do gira-mundo neste mês.


Retalhos, é o que trago amigo, retalhos

memórias do que sequer terminei de viver

Curvas de vida que nem trilhei ainda, atalhos

Chão de nações e de ilhas que não vi nascer.

Terminadas, confissões, rimas e escritos

Fecho as portas do registrar e da lembrança

Virá um novo mês, e outros gritos

Serão meus guias, minha paz e pais, serei criança.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

_nathal

Às vezes minto, às vezes manto

Há vezes em que sinto e tanto

É o preço do porvir e do viver

Que sei o que é cair sem ter você

Acordo em mim a cor do pesar

Sei bem eu a tensão e a atenção

De te ter à mente, felizmente no coração

Te ter de cor, decorando meu ver e falar.


Peço se posso te ter enquanto quiser

És a peça e nessa nossa atuação

A tua ação, bem como a minha, mulher

É nua de tons, é tua de sons, plural de paixão.

Sou o palhaço em cujo rosto há piadas

E meu olhar esconde o choro do não ver;

Enquanto houver teus pés em minhas calçadas

Haverá risos e rimas bobas a escrever.


Quero a metade, a cor da tarde com sua voz

Quero os verbos em uma pessoa conjugados:

Eu não sonho, tu não sonhas, sonhamos nós!

E os nossos nós são fios d’ouro, estrelaçados.

sábado, 2 de outubro de 2010

_bordéis

Este é um grito mudo e calado

Àquelas todas em quem eu me perdi.

Confissão de um afeto, assim, velado

Eis que desisto dos amores que ergui.


Não é que não as tenha amado

Tampouco que amor não recebi.

Mas cada riso vivido e abraço dado

Hoje é em vão que soa no ouvir.


Perdi o jeito, o tempo, ou a rima

É com poetas que este sono ocorre.

Gritos de antes, tão belos lá de cima

Não mais ouço, pouco ligo se a alma morre.

O que fui em cada uma quero longe

Os ‘eus’ plurais que descobri, fiquem com elas

Tranquei-me em mim, com a cura d’um monge

Prefiro as vidas alimentadas dentro das celas.


E não me venham cobrar que eu volte a ser

Todo de risos, pois hoje nado em lago medonho;

O sonhador que aqui havia eu vi morrer

Em cada abraço e cada amor vivido em sonho.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

_essência

Meu interior se agita.

E, nesse encanto, me confessa;

Que aquele que em mim habita

não se entende, e eu me esvaio, peça a peça.


À noite entrego meu grito

E só ela me ouve realmente.

Imperfeito? Sou esse ser, admito;

Mas imperfeito é ser perfeito na minha mente.


Então, assopro a vela oscilante;

E faço valer toda sua chama.

Queimo no brando fogo a todo instante.

E ouço meu nome, que esse mesmo fogo clama.

Busco as, sem nome, estradas;

E me perco na mui vasta imensidão,

De cada abraço e das muitas mãos geladas,

Dos que não vejo e nem sei dizer quem são.


São poucos os momentos de lucidez

Quando as vozes se me vão numa levada.

Também é parco o que tenho vez em vez:

Aquela horrível sensação d’alma calada.


Reviro os olhos tentando achar o chão:

Sei que os pés tocam solo nunca visto

Mas a procura soa como se em vão,

Já que nada vejo, quanto mais ver eu insisto.


Tudo silencia, derretem as paredes:

Há outro quarto e mais outro por detrás.

Um mundo abraça o outro pelas redes,

liberdade é sonho que passa, delírio fugaz.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

_exéquias

Este poema é em homenagem àquele que nunca conseguirei alcançar; em perfeição, honestidade e caráter, ser como ele é meu alvo. Meu pai se foi, fica entre nós a saudade e tudo o que ele trouxe de melhor. Vai em paz, meu amigo, meu pai, meu espelho, meu Simplicio.


o poeta chora a morte da raiz
o hoje dele é nublado e sem cor.
É impossível sequer pensar em ser feliz
pois é na campa que jaz o alvo do meu amor.

pai, é uma pena tudo o que não fiz
todos os risos que eu pude te dar e não dei.
é com o meu choro que eu sei o quanto eu quis
ter de volta todo o tempo que não terei.

e cada dia que agora vier, será de pranto,
assim como cada passo que eu ofertar.
serão pra ti os meus versos, o meu canto,
como foi meu o teu abraço, o teu amar.

nada tenho de que possa dizer 'é meu'
tudo o que abraço tem escrito o seu nome
todos os bens não se comparam ao que ocorreu
e nas lembranças, teu rosto lentamente some.

e recordando o último dia acordado
também lembro o que de coração pedi
'volta logo hein' falei ao lado
do meu pai, que acordado não mais vi.

e aqui, onde o começo se veste de fim
trago o adeus, o choro e a saudade
hoje vai embora a completa metade de mim
vai junto contigo toda a minha felicidade.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

_cerrado

quisera eu poder saber do que falo
entender as linhas de sentir e bordar.
quem dera meu fosse o riso qu'ora calo
pelo tempo cansado de enxergar.

o que canto agora é pranto de engano
a verdade de mim quero longe.
não mais o certo, nem a roupa ou o pano
quero o espelho, o outro lado, a reza do monge.

quero o ritmo que quebra, assusta, insiste
quero a métrica derramada pelo chão:
espero o tempo que bate à porta e, triste,
hei de abri-la para encarar o que foi paixão.

este que vos escreve é sombra e arremedo.
decidiu testar o quanto suporta a alma,
que venha o feio, o medonho, o sonho, o medo
que venha o mar e seus demônios, nus de calma.

e percorrendo os segredos que não contei
porque a bem da verdade, não existiram.
o antigo eu que fui, enfim, verei
e morrerão os versos que de mim saíram.

chorem, então, é este o fim do poeta;
mas não chorem porque ele terminou.
chorem, sim, pois é esta a última meta.
quando vem a morte, é sinal que o poeta amou.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

_circense

Como voa a mariposa
À luz da luz que a alumia!
Ela, qual linda esposa,
Enche meu mundo de harmonia.
Ela voa ao sabor do vento
E este lhe afaga o vôo.
O espetáculo eterniza o momento
E a luz lhe concede asas de fogo.

Suas asas cantam na viagem,
Suave e doce melodia;
Pois nessa peça o personagem,
Esconde do público 'alegria.
Sendo eu, de máscara, tragédia
Com o rosto, em secreto, morto.
Sou um: horror e, ao mesmo tempo, comédia,
Num paralelo mundo torto.

E minha voz, abafada e contida
Mostra como eu mesmo me vejo.
Pois nessa peça, a prece escondida
É a mariposa voando em seu ensejo.

sábado, 24 de julho de 2010

_espera

Sinto falta do abraço,
Daquela qu’eu chamo de amor.
Pois na minha linda encontro eu regaço
E em seu rosto, nunca houve dor…

À minh amada eu dedico
O que sei qu’ela não merece,
Pois o amor, que sinto e não explico
Queria que fosse maior, essa é minha prece.
“Amor, meu grande amor…”
dizia a poesia armada,
Amor minha grande razão de dor,
“…não chegue na hora marcada”.

Pois em cada sorriso teu,
Saiba que eu pude me esconder, mulher.
Você é aquela por quem meu coração cedeu;
És desejo que todo amante quer

sexta-feira, 23 de julho de 2010

_conforto

Eu sinto suas mãos me envolverem
E volto a pensar que estou vivo...
Percebo passos, não mais meus, tremerem,
Quando ouço os sussurros que não digo.

Eu procuro o verso qu’ é perfeito
Erguendo gritos ao vento intermitente,
Não sinto mais o abraço e me deleito
Com sua voz, qu’ inda existe, insistente.
Só há lembranças de um tempo que vivi,
Parcos desenhos e sombreados nus...
Borrões se erguem reclamando o que eu vi
Num céu de poucas nuvens, escassos azuis.

Ela e eu – vivo corpo num delírio;
Diz a memória que me testemunha a dor.
Ela e eu, não existimos mais: martírio.
...ainda te amo, e isso prova todo o ardor...

quarta-feira, 21 de julho de 2010

_primogênito etílico

E se não me resta amor,
só o abraço da melancolia,
os tristes beijos de dor
da dama que se chama boemia.
E nessa dança de passos trocados
vou sôfrego e carente a descobrir
que os copos todos rotos, esvaziados
refletem o amante que fui e vejo se ir

nas esquinas de uma rua mais vazia
que os copos da estrofe anterior
eu me perco na lembrança sempre fria
de que existe aquele triste que chamo de amor.

O mesmo de que disse 'não me resta'
o mesmo que é matéria pr'escrever
o mesmo que marca os poetas à testa
o mesmo que nos mata sem morrer
E a que me encerra entre amor, medo e fumaça
é essa senhora de dor, risos e paixão;
essa meiga dama, que insisto em dizer, a cachaça
que me roga e me afoga, no fundo do garrafão.

Penso nela nos tropeços que eu dou,
sou carregado por braços que não vi;
percebo então que o destino meu chegou
peço a todos, ''por favor, larguem-me aqui”

''Larguem-me aqui, com a dama que me passa
deixem-me só com a deusa de meus sonhos
pois não vejo outra senhora, mas a cachaça,
que traz luz a meus delírios mais medonhos''

quarta-feira, 14 de julho de 2010

_rito duma lágrima

Há uma lágrima que, contida
Faz seu trajeto em meu rosto, gotejante;
Vejo um sentimento antigo e sem vida
Que ressuscita-se a si, do pó, errante.
Há a confusa certeza da derrota
E a troca dos papéis uma vez mais…
…há catedrais que desmoronam à minha volta
Além de sinos que se ouvem… não se ouvem mais.

É confuso, volta, retorna e se vai,
Mas, na verdade, nunca saiu de seu posto.
Então como pode ter essa força que me atrai?
Maldito sentimento, que, confuso, é meu desgosto.

Então eu desço àquela escadaria,
Que é palco de todo o meu desejo…
…desfruto das gotas dessa espúria agonia
e mostro-me vencido diante do que vejo.
Mas logo que ela vem, traz,
Sob seus belos risos, salvação.
Traz também beleza, força, calmaria e paz…
Conduz-me ao encanto de um perdoado coração.

E o perdão, emoção tão esquecida,
Torna-se, com ela, sentimento primo…
…quando, puro, a amo e me perco em minha vida.
E a escalo, sem medo, pronto a alcançar-lhe o cimo

sábado, 3 de julho de 2010

_bordados

foi como se pela vez primeira a visse,
e o riso qu'amo, como antes, iluminou
trazendo luz ao qu'era meu, e ela disse
''ontem à noite, meu coração, contigo, ficou.''

e com medo de quebrar o sacro encanto
minha resposta foi o silêncio que diria
muito mais que palavras bordadas num manto
muito mais que todo o sol presente num dia.
e já que o poeta é tão grande quanto sua dor
imagine a grandeza deste que aqui se derrama
quando ela disse ''não posso ser toda deste amor,
não posso, pois há ainda um que me ama.''

mas o choro não foi maior que o riso
nem a dor foi capaz de vencer o momento
quando os amantes entenderam que era preciso
olhos no hoje, beijos no agora. O depois é tormento.
mas há problemas em sonhar, um só apenas
é que fechar os olhos nunca pode ser eterno
então os sonhos vão embora, vão em dezenas
e toda a sombra que é do céu se veste d'inferno.

veio a mensagem, fria como a despedida
virtual, como o é, sempre, o não...
''Nunca fui tua, assim termina nossa ilíada;
e digo, nua, que hoje quero o de antes da paixão.''

domingo, 27 de junho de 2010

_afasia inspirada

altar de pedra onde termina o todo
palco dos vermes e de sua fome sem fim
lago de rostos, espelho de sombras e lodo
chama que oscila das velas erguidas a mim.
fechar os olhos aqui é abri-los lá,
cessar o sopro de um lado do véu,
é o mesmo que adiar o que é 'já'
enquanto caminha-se e o olhar é para o céu.

se é inevitável vestir-se co'a madeira
e se o véu sobre a cabeça encanecerá,
que venha a campa, pesada e verdadeira,
abraço do fim, beijo que a terra dará.
e quando tudo que sou for o que fui
aí então há de sobrar podre memória;
no lamento louco de línguas em 'ai' e 'ui'
a inspiração de uma obra por nome A Glória.

terça-feira, 22 de junho de 2010

_sou eu quem

Um lampejo de lembrança
parte do que foi e não mais é.
Sou eu, e ser é a herança
dos que se dizem sãos, até...

Sou poeta, bêbado e palhaço,
pense em mim como os muitos qu' eu sou,
como os muitos encerrados no abraço
deste qu'escreve, que bebe, que dá seu show!
Equilibrado então e em meu passeio
dou piruetas na corda que se não vê;
fujo de amores em meu infindo receio
pois o palhaço, também amante, não pode ser.

sábado, 12 de junho de 2010

_paráfrase fraterna

É orgulho o que experimento toda vez em que vejo poetas de almas ancestrais nos tempos de agora. A despeito do caos que tudo isto virou, estas almas ainda amam como há milênios se amou, ainda idealizam como idealizaram de Azevedo, Alphonsus e Machado. Dado a este fato, apresento o poema de um poeta travestido de amigo.


"Vi eu a musa de meus devaneios.
Quis me esconder, disfarçar, e apaixonei-me. Ah
vil sina! Suceder o que não se imagina, até perder
(mesmo o que não se chegou a ter).

Esses beijos fortuitos que não eram meus,
este seu calor de mulher-menina que me furta os sentidos!
Qual poeta medieval que anseia por sua senhora
assim eu ainda devoto-lhe meu desejo
puro, casto.

Por mais que pesar haja em não ter-lha
no afago de meus braços.

És quem não cesso de querer..."

André, o Marques

sexta-feira, 28 de maio de 2010

_agora

Quero ser eu, mas como!?
Se nenhum dos que vejo são ‘eus’
Capazes de ser aquele a quem somo
Quando me riem, ou choram, ou me dizem adeus.

Quero o choro convertido em riso
Ser amado sendo exatamente quem
Eu sou quando quero e preciso
De mais goles de meu eu e meu ninguém.

Não me querem como sou ou não
Aceitam o pobre que posso ser;
Mas se eu fosse o tolo rico em paixão
Talvez em máscaras eu pudesse me ver.

Queria vê-los como eu, em épocas de antes
Saber seus atos que hoje, por igual, censuram
No prisma em que vivo, e ver seus semblantes
Em males antigos, que hoje pensam que curam.

Mas os mesmos males meus são marcos
De mentiras medindo a mente que mora em mim;
Monstros e medo, mistérios que miram arcos,
Metros e milhas, moinhos mortos no fim.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

_proesia em P menor

passageiro e pouco perene, eis a proesia


Por mais que eu possa, não piso na poça, passo o poço e não peço perdão. Pego na pira e no ponto de fogo, ponto de fuga que aponta pro chão. Passo rasteiro pedindo passagem, pegando em viagem o prêmio nas mãos; parto em partos as partes de mim, peço aos que podem não pensem assim. Pesco em potes porções de mim, perdendo as posses no passeio sem fim.

terça-feira, 4 de maio de 2010

_domingo em soneto



Eu amo o amor que é velado
Adoro o riso bobo que ele traz,
As palavras inocentes do namorado
E os suspiros da menina qu'ama o rapaz.

Eu rio de tudo quando apaixonado
O mundo é outro, parece, visto assim,
Como prisma, caleidoscópio virado
Mas sou tolo, por pensar que não terá fim.
Meu fim chega, nunca sozinho, porém
Vem com o riso de outra e, sendo em mim
Vejo sempre mais um barco ir além...

...o mesmo barco sou eu e sou, enfim
O horizonte que se arrasta, fugindo e vem
Traz consigo o rastro que sigo, sou eu e meu sim.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

_comigo

Não, não sou um sujeito amável
sou aquele que ignora os pedintes
passo à rua com olhar bem detestável,
a indiferença é o maior dos meus requintes.

Se me dirigem a palavra, quando ouço
assumo ar de quem finge não entender;
olhar no chão, mãos metidas no bolso:
'é comigo?' - penso – 'vai saber...'.
E assim corro de largo em pleno passo
em minha estima eu percebo não haver
motivo claro p'ra em mim haver espaço
para sorrisos, bons humor ou parecer.

A questão é que quando estou sozinho
e começo a conversar comigo apenas
sou muito mais feliz e, com carinho
reconheço ser o melhor dentre centenas.
Faça o favor de não tentar me provar
qu'é melhor ou necessário ter alguém
minha paisagem é bem melhor de se estar
quando os amigos e companheiros são ninguém.

Até porque, prefiro em muito o abraço
que me envolva no orgulho dum conselho
é mais bem vindo o contato que eu traço
é mais bem quisto o abraço do espelho.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

_o anjo em preto e branco

Agora quero falar de meu anjo
Darei voz ao coração e serei franco
Descreverei em detalhes o lindo arranjo:
O anjo que amei em preto e branco.

Eu me lembro de quando ela surgiu:
Era o mundo triste e eu poeta manco.
Mas o medo se foi quando ela sorriu;
O anjo que amei em preto e branco.
E pelo anjo, que vi e deixei ir
Há, ainda, certo amor que banco;
Anjo-mulher, que não quero ver sumir.
O anjo que amei em preto e branco.

E neste anjo eu encontrei o meu conforto,
Pois o amor de antes, obsoleto,
Preenche o coração outrora morto,
Culpa do anjo que amei em branco e preto.

Quero voltar ao dia de sua aparição,
Quando eu sorri, agradecido, ao céu.
Vi-a linda, como sempre, e sua canção
Eram os passos que ela ofertava ao léu.
E eu julgava que era um anjo que eu via,
Quando em verdade minha admiração demasiada
Era da mulher, menina dos olhos da poesia
Mulher, menina, anjo confundido em fada.

E quando olhei, de verdade, entendi
Que o sorriso era mesmo encantador!
E o que falar do cabelo, véu que vi?!
É sim um anjo que curou toda a minha dor.

Só posso então, agradecido e enamorado,
Ofertar minha admiração e dependência,
Por aquela que encontrei quando, encantado,
achei eu, nova vida em minha carência.

terça-feira, 20 de abril de 2010

_nubente



Olhos que se fecham retratam, raros.
A saudade aparente de um coração;
Que viveu à sombra de esquecidos
disparos
E, saudoso, chama o nome de sua paixão.

Tiraram-na dele, e ele dela…
Foram embora com seu sopro de vida.
Entornaram água em sua aquarela
E apagaram a quimera nela contida.

E ele não soube o amor
Que ela, em si mesma, sentia.
Pois em toda tristeza e terror
Era por ele que a alma dela ardia.

Mas a levaram, como dito;
E ambos não sorveram romance.
Pois naquele dia maldito,
O amor dos dois teve sequer uma chance.
Hoje, a urgência mostra-se poeta,
Pois fará encontrar ele, com sua menina.
A morte espreita e é vista – secreta.
Pois seu amor foi condenado à guilhotina.

Uma única lágrima implorou
Para o rosto do carrasco pelo amante;
Mas o algoz cruelmente ignorou,
Soltou a lâmina e o homem viu-se errante.

Ela chorou, a morte rápida aconteceu,
E o azul do céu testemunhou a dor…
Mas ela também sorriu quando do cálice sorveu:
o veneno a levaria a seu amor.

Nunca mais separariam o casal;
pois na colina negra se encontraram.
Caminhavam, amantes, à catedral;
num enlace final, os eternos se abraçaram.

sábado, 17 de abril de 2010

_palhaça


Palhaça, senhora de meu sorriso
Traz-me o conto e’ alegria sem o véu.
Traz-me toda a comédia de que preciso,
Mas traga também, o teu beijo, puro de céu.

Vem comigo e conduza-me, palhaça
À plenitude dum amor que não sonhei;
Minhas lembranças são tuas e o qu’eu faça
Não serve mais, pois a teu riso me acostumei..

Cada momento, por mais vão que pareceu
É rara jóia que guardo como as contas
Da pulseira que pelo acaso pereceu

A soma das notas que sopramos se perdeu
Na harmonia mais perfeita que a das ondas,
No Dia do Senhor a conheci [e na estranha ilha anoiteceu].

sexta-feira, 16 de abril de 2010

_onírico


Muitas pessoas ousam nos interromper enquanto da caminhada. E no decorrer deste trajeto que se alcunhou como vida, outras poucas pessoas provam que tudo isso é um sonho que temos o prazer de partilhar com elas!

É p'ra tanto que escrevi este poema, para uma menina, uma mulher, uma mestra. Revolta e imprevisível como o Mar, aconchegante e iluminada, contudo, como o Sol.
Eis, a vocês, o poema "Onírico":

'Você é sonho que tive o prazer
De viver quando de olhos abertos
Sonhamos juntos sobre o injusto viver
De cantar e gritar, de não estarmos certos.

E em escadarias de risos e romances
O que plantei germinou em inverso
Neste universo de tristes e malditos lances
Nossas escadas são estrofes, cantos e versos.

Ao inverso também foi o tempo e a vida
Os sons que nos chegaram em tempo de amor
Os sonhos que, dormindo, eram-nos ‘ida’
E o acordar sem os sonhos, era-nos dor.

Mas sempre as perguntas e respostas
Tiravam o meu chão com maestria;
E minha cruz de hastes negras e transpostas
Era o riso que eu amava sonhar que ouvia.'

_passus Primus

Nada melhor que começar do início, não!? Pois bem...

O primeiro nome possível seria 'todos têm', ou melhor, 'todostem.blogspot.com' - afinal, hoje em dia, como diz o dito, blog é bunda, todos têm - nada mais justo que fazer um reclame disso no próprio nome. Resultado? Olhei a tela, que me avisava, sem se compadecer de minha dor (porque escolher um nome impactante é cousa difícil) ''endereço de blog não está disponível". Takilpa!

E agora? Então me lembrei dum lugar que por muito na minha adolescência eu desejei. Parnaso, o monte (sim, errei nos dois 's' colocados, mas é p'ra diferenciar e tal - ou não). Segundo a nossa gloriosa wikipédia, "o monte Parnaso, na mitologia grega, era a montanha consagrada a Apolo e às musas. O nome do monte é emprestado ao parnasianismo, estilo literário que se opunha ao romantismo e tinha como principal aspecto uma busca rigorosa pela forma e pela estética dos poemas e textos produzidos".

Pois bem, queridos, é com esta definição que espero fazer jus a tudo o que representa a nossa encantada montanha, moradia de musas desejadas e de Apolo, pai da verdade, deus de luzes e da purificação!

Portanto, este blog será, espero, um recôndito de poemas, belas formas e prosas que acarinhem o espírito!

_hope you all enjoy_