sexta-feira, 23 de abril de 2010

_comigo

Não, não sou um sujeito amável
sou aquele que ignora os pedintes
passo à rua com olhar bem detestável,
a indiferença é o maior dos meus requintes.

Se me dirigem a palavra, quando ouço
assumo ar de quem finge não entender;
olhar no chão, mãos metidas no bolso:
'é comigo?' - penso – 'vai saber...'.
E assim corro de largo em pleno passo
em minha estima eu percebo não haver
motivo claro p'ra em mim haver espaço
para sorrisos, bons humor ou parecer.

A questão é que quando estou sozinho
e começo a conversar comigo apenas
sou muito mais feliz e, com carinho
reconheço ser o melhor dentre centenas.
Faça o favor de não tentar me provar
qu'é melhor ou necessário ter alguém
minha paisagem é bem melhor de se estar
quando os amigos e companheiros são ninguém.

Até porque, prefiro em muito o abraço
que me envolva no orgulho dum conselho
é mais bem vindo o contato que eu traço
é mais bem quisto o abraço do espelho.

3 comentários:

  1. Somos os protagonistas das nos próprias vidas, né? Genial, isso... Gostei do que escreveu; bem cheio de verdade e sinceridade. Beijos!

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  2. Pedro, com toda a calmaria de um comentário tranquilo, daqueles que se fazem num sussurro estrondoso, que ribombam no silêncio da sinceridade segura, daqueles sobre os quais não precipitam confetes fáceis de fáceis adulações, só queria deixar o registo de que seus poemas foram uma agradável surpresa. Não tinha idéia de que escrevias, mas, ao ver que escreves, vi que o fazes muito bem. Parabéns é uma palavra tão gasta e já, pobrezinha, tão esvaziada de sentido, que não ousaria escrevê-la a ti, prefereria uma aliteração digna do Boca do Inferno: solta, leve, sincera e vexatória: porra, Pedro, que puta poeta!!!

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  3. Deveras mui grande maestria, de poeta ou de médico ao diagnosticar meu espírito?

    Lembre-me de retornar ao teu consultório!

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