quarta-feira, 30 de novembro de 2011

_combinadO

Mãos vazias e boca quieta; ela chegou.
Olhava por baixo, como quem sabe não entender.
tornou-se, então, dona de tudo que fui e que sou
ganhou a corrida que eu nunca pensei em perder.
hoje está longe, não pode me ver e beijar.
Mas é perto que a penso e que a sinto.
Penso se me vê, se pensa em mim e onde está
lembro da boca e do beijo, em desejo, tinto.

cadê a voz, o mundo de sopro criado?
cadê o anjo sem asas e o abraço?
Do reino de agora eu sou o Rei calado
e a Rainha de mim afastou-se de meu laço.

Mas a manha do amanhã tão bem me pega
e as lembranças se convertem num mar real
em pleno fio da meada, seu olhar me cega
e o salão, antes silêncio, vira carnaval.
É dia de vê-la, dia de amor e de cantos
dia do prato que chega como na canção
dia de risos, de morte a todos os prantos
dia de fim, definindo o contrário do 'não'

e como 'sentido' e 'destino' se equiparam
(troque as letras de lugar para saber)
posso dizer que aqueles meus sonhos chegaram
(e a alma já bebe da calma, pois tenho você)
e em seu colo hei de contar os meus segredos
hei de tecer os escritos do livro primeiro
pois é no lar do seu riso que fogem os medos
é como se... seu abraço fosse o meu mundo inteiro.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

_telefonemA

choro. De saúde e de saudade
choro do tempo em que o tempo era neném
o tempo dele, do pai do irmão, da liberdade
tempo em que eu não precisava temer ninguém

choro pelo tempo que não ousa mais voltar
a meta, a metade, a moral, o abraço de pai.
o pai sem terno, o pai eterno, o aposentar
após sentar, ler a estória que o sono atrai.
a voz da criança travestida de senhor
voz que gritava o meu nome só pra me ver
voz que agora é calada no meu calor
que de novo tanto, como manto, queria ter.
a voz de paz, a voz de pais, a voz de avós
voz das idades num só corpo encarceradas
voz carregando o poder de oitenta e um nós
voz de ''tá tarde, volta pra casa'', voz de mãos dadas.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

_quartO

hoje um anjo dormiu em meu regaço
seu respirar embalou o anoitecer
sua voz, tão pouca, fez o coração crescer
e o seu corpo todo foi como um laço.

hoje um anjo disse que me amava
e que pouco amor nunca seria
e o meu tal anjo me beijava e me sorria
e o seu gosto de convite é o que ficava.
conforme a noite foi se avizinhando
meu sonho alado ainda mais dormiu
abraço de mãos sem asas: a dor sumiu
fiquei ali, o sono do anjo velando.

de repente o meu anjo abriu o olhar
e o quarto quase todo em mim girou
quantas idas, quanta vida ali se formou
e os cantos de encanto vieram a mim cativar.

hoje eu só temo que uma coisa aconteça
tremo em pensar que num dia não a veja
a alma grita, a alma escreve, a alma almeja:
o amor do anjo impede que eu pereça.
as palavras, a voz, o beijo e o riso
tudo do anjo é meu e meu apenas
sua dança nos ares, seu abraço de penas
de tudo que é dela é que eu preciso!

e a saudade já me bate assim que despeço
digo e peço ao tempo ''vá, sem demora''
eu peço e imploro, meu anjo ora
em nosso abraço há o pouco e o excesso.
então termino, meu anjo sem asas e céu
pedindo, dizendo, querendo e cantando
os verbos são muitos, mas me pergunto quando
serei eu de ti, sem horas, sem dores e véu.

_salA

cai a máscara, o pano e o poeta
rima de ano em ano na cabeça
proposto o tema, ergue-se a meta
que venha tudo p'ra que o conto não pereça.


ao lado, com um cubo do bolso tirado
repousa o segredo sagrado do que canta
sonho que eu vivo, sonho que veio comigo acordado
sonho que eu quero que me cubra como uma manta.


mas voltando aos instantes da atuação
a tua ação me mostra o espelho da vida
a rima certa, o desafio ao coração
a peça perfeita, peço seja feita e não lida.


decoro o texto, de cor o pretexto do mascarar
mais tarde nasce o fruto do frio, da memória
cubo a cabo, ao cabo do mundo, e acabar
é chegar ao fim diverso, do verso sem tema e sem glória.

sábado, 5 de novembro de 2011

_torpedO

então suma daqui, vá-te embora:
eu nunca mais te quero perto.
penso que é já chegada a hora
de escolher qual dos dois é o mais certo.

leve consigo os vícios e delícias
fiquem aqui as virtudes do maior
quero longe as palavras de malícia
quero a morte de meu duplo pior
find' hoje o peso de um mundo não mais meu
pois o teu beijo e o teu riso resgataram
aquele leve, livre e lúdico outro eu
sinto agora que as vozes d'antes se calaram.

era um júri o que havia em minha rota
tantas vozes e mãos a apontar
satisfeitas com cada encenada derrota
nunca dispostas, contudo, a ajudar.
hoje os caminhos que eu trilho são de ti
vêm de mim, mas antes por você passaram,
o que rimo, o que escrevo, o qu'insiste em sair:
são os mundos nossos que finalmente chegaram.

eu só agradeço e peço que não pare
sigo a saga e segrego-me em segredo;
olhe essa foto, veja este espelho, amor, encare
é o futuro que nos convida a não ter medo.
abre a via de nosso conto, abrevia
sobrevoa e sobrevive ao que vier.
quem é você, quem sou eu em cada dia:
sou a criança que insiste em comer de colher.

e nessa troca de idas, de idades
eu me perco, porque há muito já cedi.
agora sou teu e de nossas muitas cidades.
e a propósito, meu amor: - perdi!