segunda-feira, 25 de julho de 2011

_madrugada

eu fui até você quando o vento mandou

eu queria mais de você e menos de mim

não ser meu é tudo o que de mim restou

e o meu desejo é qu'em você eu não tenha fim.



no mar mais brando, a vaga ergue a voz e canta

espuma dá beijos que desaguam n'areia de nós.

penso que para mim a madrugada é a hora santa

sei que você quer também a praia e o silêncio da voz.



e na terceira palavra de cada verso

exceto aqui, cujo foco é o verso de fim

defino a mensagem, cifrando o nosso universo

quero-a novamente, como 'inda não a pude ter assim.

terça-feira, 19 de julho de 2011

_solúvel

abriu a porta, foi me dizendo pra entrar
logo eu que nunca tive nenhuma cerimônia.
entrei abraçando as paredes de meu próprio lar.
vinha eu vestido de lembranças, choros e insônia.


vi nos seus olhos o homem que um dia eu fui
ela mesma se lembrava do que nem vivemos.
é estranho erguer um castelo que cai e rui
bem mais estranho ser rei d'um reino que não mais temos.


e o nosso 'nós' de tão rápido foi, tornou-se um 'eu'
as feridas ora gritam que o passado foi bom (e é)
o toque primeiro, o primo olhar, você me leu
eu te escrevi no fundo de minha xícara de café...


hoje o nosso aceno não mais nos aproxima ou canta
ontem a ameaça de não mais existir é tão bem clara
que de cima de nosso frio eu posso despir a manta
e o amanhã qu'agora se ergue é surdo de sons, música cara.


um quarto em penumbra, sem cama ou documentos
registra o memorial do amor que não chorou
vimos nascer doze livros com os nossos momentos
e ontem na rua, caiu-me do bolso o que você não achou


volume treze das esquinas que percorremos
você me pedia pra esquecer o pudor e dançar.
eu olhava tudo, todos os lados. Agora o que temos?
um quadro de penas e lembranças lançadas ao ar.


p.s.: vídeo-conto de Marcos Farion, inspirado no conto de Maíra Viana que, por sua vez, se inspirou na música de Fernando Anitelli que, por sua vez... 

sábado, 9 de julho de 2011

_quadra do frio

"O futebol me soa como um vício quase tão fútil quanto o do cigarro. A diferença é que, quanto ao fumo, eu posso fazê-lo parado..."

- Amigão, um maço de Lucky Strike, por favor?!


"What a pretty and monochromatic artist the cigarette is. Made my hands yellow, made my teeth yellow, but for my lungs he kept safe the best colour: B.L.A.C.K.
Mas que belo e monocromático artista o cigarro é. Amarelou-me os dedos, amarelou-me os dentes, mas p'ros pulmões salvaguardou a melhor cor: P.R.E.T.O.

Eu fiz, eu fiz um lema. Efi... Efisema!"

- Pois não. De qual?

- Hm, vermelho, vermelho.
- It's toasted!

sexta-feira, 8 de julho de 2011

_filha do sol

Para o dente-de-leão,
que me mostra quão livres podem ser os elementos,
com um simples bater de asas
do vento....

e nada de novo há de nascer
em solo onde o mesmo é semeado;
o que ora vive, já é sabido qu'irá morrer
o que virá, durante um piscar, será passado.
Nasce a flor e é viva em suas cores,
dona de si e de beleza que não finda;
mas dura a rosa como duram os amores,
hoje mesmo cai a rosa, hoje ainda.

Espere, pequenina, a dor já passa.
Ontem mesmo não te sangrava o coração.
Terás amor, por qual não cobro e, de graça
seremos ambos livres num limbo sem danação.

Dê-me tua mão, pequena, ande comigo.
Siga o caminho, véu que minha voz teceu;
sou teu poeta, teu pastor; meu canto de amigo
não é mais d'outros: quero que seja p'ra sempre seu.
E acaba a lira ante os olhos do céu e do mar.
Encerra-se, o poeta, sob olhar do vento e da terra.
Que trema tudo, que rua o mundo quando ele falar,
rezam as ninfas que, quando o fim cala, o início berra!

quinta-feira, 7 de julho de 2011

_ode à noite congelada

"Sr. V: - Eu sei fazer pão de cebola! Sabe como eu faço?

Sr. J: - Hmm... com pão e cebola?

Sr. J/P: huauhauhAhuahuahuAUHHUaUAuhHUAHuHUAHuHUAhuHUAhuHUA³

Sr. V: - ¬¬. Vô esperar vcs acabarem de rir.

Sr. J: - Se não é com isso, vai ter que mudar de nome!"

"Sr. J: - Aqui... é 'monotomia' ou 'monotonia'?

Sr. P: - Monotonia, cara; o outro não existe...

Sr. V: - Monotonia? Motonomia? Na moto não mia; ih alá, o gato na moto não mia HAHAHA

Sr. J: - ...

Sr. P: - ..."



Sr. P: "- Eu não perguntei o que era ruminar!"


e longe vai a barca...


p.s.: este trechinho é apenas uma pequenuta homenagem a três amigos que, no fundo, podem ser eu, você, outros...^^

sexta-feira, 1 de julho de 2011

_soneto da contemporaneidade

''De tudo ao meu amor serei atento...''
- Porra nenhuma!
Em meu amor, nunca encontrei alento
...sequer verdade alguma.
"Com tal zelo e sempre e tanto...''
- Zelo é o caralho!
Meu amor nunca me envolveu num manto
Ele é falho!


''Quero vivê-lo em cada vão momento....''
- Quero nada...
E como não quero, finjo que quero, invento...
O meu amor é uma sacola furada!!
"Quem sabe a morte, angústia de quem...''
- Vive?!
Você não sabe o poder qu'angústia tem,
menos ainda sabe onde eu estive.
O amor, amigo, é vento que vai e vem;
é ferida, é chaga aberta, é dor e chama
é u'a lista de hipérboles que fim não tem
é um quarto trancado às escuras, onde não há cama...