sexta-feira, 23 de abril de 2010

_comigo

Não, não sou um sujeito amável
sou aquele que ignora os pedintes
passo à rua com olhar bem detestável,
a indiferença é o maior dos meus requintes.

Se me dirigem a palavra, quando ouço
assumo ar de quem finge não entender;
olhar no chão, mãos metidas no bolso:
'é comigo?' - penso – 'vai saber...'.
E assim corro de largo em pleno passo
em minha estima eu percebo não haver
motivo claro p'ra em mim haver espaço
para sorrisos, bons humor ou parecer.

A questão é que quando estou sozinho
e começo a conversar comigo apenas
sou muito mais feliz e, com carinho
reconheço ser o melhor dentre centenas.
Faça o favor de não tentar me provar
qu'é melhor ou necessário ter alguém
minha paisagem é bem melhor de se estar
quando os amigos e companheiros são ninguém.

Até porque, prefiro em muito o abraço
que me envolva no orgulho dum conselho
é mais bem vindo o contato que eu traço
é mais bem quisto o abraço do espelho.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

_o anjo em preto e branco

Agora quero falar de meu anjo
Darei voz ao coração e serei franco
Descreverei em detalhes o lindo arranjo:
O anjo que amei em preto e branco.

Eu me lembro de quando ela surgiu:
Era o mundo triste e eu poeta manco.
Mas o medo se foi quando ela sorriu;
O anjo que amei em preto e branco.
E pelo anjo, que vi e deixei ir
Há, ainda, certo amor que banco;
Anjo-mulher, que não quero ver sumir.
O anjo que amei em preto e branco.

E neste anjo eu encontrei o meu conforto,
Pois o amor de antes, obsoleto,
Preenche o coração outrora morto,
Culpa do anjo que amei em branco e preto.

Quero voltar ao dia de sua aparição,
Quando eu sorri, agradecido, ao céu.
Vi-a linda, como sempre, e sua canção
Eram os passos que ela ofertava ao léu.
E eu julgava que era um anjo que eu via,
Quando em verdade minha admiração demasiada
Era da mulher, menina dos olhos da poesia
Mulher, menina, anjo confundido em fada.

E quando olhei, de verdade, entendi
Que o sorriso era mesmo encantador!
E o que falar do cabelo, véu que vi?!
É sim um anjo que curou toda a minha dor.

Só posso então, agradecido e enamorado,
Ofertar minha admiração e dependência,
Por aquela que encontrei quando, encantado,
achei eu, nova vida em minha carência.

terça-feira, 20 de abril de 2010

_nubente



Olhos que se fecham retratam, raros.
A saudade aparente de um coração;
Que viveu à sombra de esquecidos
disparos
E, saudoso, chama o nome de sua paixão.

Tiraram-na dele, e ele dela…
Foram embora com seu sopro de vida.
Entornaram água em sua aquarela
E apagaram a quimera nela contida.

E ele não soube o amor
Que ela, em si mesma, sentia.
Pois em toda tristeza e terror
Era por ele que a alma dela ardia.

Mas a levaram, como dito;
E ambos não sorveram romance.
Pois naquele dia maldito,
O amor dos dois teve sequer uma chance.
Hoje, a urgência mostra-se poeta,
Pois fará encontrar ele, com sua menina.
A morte espreita e é vista – secreta.
Pois seu amor foi condenado à guilhotina.

Uma única lágrima implorou
Para o rosto do carrasco pelo amante;
Mas o algoz cruelmente ignorou,
Soltou a lâmina e o homem viu-se errante.

Ela chorou, a morte rápida aconteceu,
E o azul do céu testemunhou a dor…
Mas ela também sorriu quando do cálice sorveu:
o veneno a levaria a seu amor.

Nunca mais separariam o casal;
pois na colina negra se encontraram.
Caminhavam, amantes, à catedral;
num enlace final, os eternos se abraçaram.

sábado, 17 de abril de 2010

_palhaça


Palhaça, senhora de meu sorriso
Traz-me o conto e’ alegria sem o véu.
Traz-me toda a comédia de que preciso,
Mas traga também, o teu beijo, puro de céu.

Vem comigo e conduza-me, palhaça
À plenitude dum amor que não sonhei;
Minhas lembranças são tuas e o qu’eu faça
Não serve mais, pois a teu riso me acostumei..

Cada momento, por mais vão que pareceu
É rara jóia que guardo como as contas
Da pulseira que pelo acaso pereceu

A soma das notas que sopramos se perdeu
Na harmonia mais perfeita que a das ondas,
No Dia do Senhor a conheci [e na estranha ilha anoiteceu].

sexta-feira, 16 de abril de 2010

_onírico


Muitas pessoas ousam nos interromper enquanto da caminhada. E no decorrer deste trajeto que se alcunhou como vida, outras poucas pessoas provam que tudo isso é um sonho que temos o prazer de partilhar com elas!

É p'ra tanto que escrevi este poema, para uma menina, uma mulher, uma mestra. Revolta e imprevisível como o Mar, aconchegante e iluminada, contudo, como o Sol.
Eis, a vocês, o poema "Onírico":

'Você é sonho que tive o prazer
De viver quando de olhos abertos
Sonhamos juntos sobre o injusto viver
De cantar e gritar, de não estarmos certos.

E em escadarias de risos e romances
O que plantei germinou em inverso
Neste universo de tristes e malditos lances
Nossas escadas são estrofes, cantos e versos.

Ao inverso também foi o tempo e a vida
Os sons que nos chegaram em tempo de amor
Os sonhos que, dormindo, eram-nos ‘ida’
E o acordar sem os sonhos, era-nos dor.

Mas sempre as perguntas e respostas
Tiravam o meu chão com maestria;
E minha cruz de hastes negras e transpostas
Era o riso que eu amava sonhar que ouvia.'

_passus Primus

Nada melhor que começar do início, não!? Pois bem...

O primeiro nome possível seria 'todos têm', ou melhor, 'todostem.blogspot.com' - afinal, hoje em dia, como diz o dito, blog é bunda, todos têm - nada mais justo que fazer um reclame disso no próprio nome. Resultado? Olhei a tela, que me avisava, sem se compadecer de minha dor (porque escolher um nome impactante é cousa difícil) ''endereço de blog não está disponível". Takilpa!

E agora? Então me lembrei dum lugar que por muito na minha adolescência eu desejei. Parnaso, o monte (sim, errei nos dois 's' colocados, mas é p'ra diferenciar e tal - ou não). Segundo a nossa gloriosa wikipédia, "o monte Parnaso, na mitologia grega, era a montanha consagrada a Apolo e às musas. O nome do monte é emprestado ao parnasianismo, estilo literário que se opunha ao romantismo e tinha como principal aspecto uma busca rigorosa pela forma e pela estética dos poemas e textos produzidos".

Pois bem, queridos, é com esta definição que espero fazer jus a tudo o que representa a nossa encantada montanha, moradia de musas desejadas e de Apolo, pai da verdade, deus de luzes e da purificação!

Portanto, este blog será, espero, um recôndito de poemas, belas formas e prosas que acarinhem o espírito!

_hope you all enjoy_