quinta-feira, 19 de agosto de 2010

_exéquias

Este poema é em homenagem àquele que nunca conseguirei alcançar; em perfeição, honestidade e caráter, ser como ele é meu alvo. Meu pai se foi, fica entre nós a saudade e tudo o que ele trouxe de melhor. Vai em paz, meu amigo, meu pai, meu espelho, meu Simplicio.


o poeta chora a morte da raiz
o hoje dele é nublado e sem cor.
É impossível sequer pensar em ser feliz
pois é na campa que jaz o alvo do meu amor.

pai, é uma pena tudo o que não fiz
todos os risos que eu pude te dar e não dei.
é com o meu choro que eu sei o quanto eu quis
ter de volta todo o tempo que não terei.

e cada dia que agora vier, será de pranto,
assim como cada passo que eu ofertar.
serão pra ti os meus versos, o meu canto,
como foi meu o teu abraço, o teu amar.

nada tenho de que possa dizer 'é meu'
tudo o que abraço tem escrito o seu nome
todos os bens não se comparam ao que ocorreu
e nas lembranças, teu rosto lentamente some.

e recordando o último dia acordado
também lembro o que de coração pedi
'volta logo hein' falei ao lado
do meu pai, que acordado não mais vi.

e aqui, onde o começo se veste de fim
trago o adeus, o choro e a saudade
hoje vai embora a completa metade de mim
vai junto contigo toda a minha felicidade.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

_cerrado

quisera eu poder saber do que falo
entender as linhas de sentir e bordar.
quem dera meu fosse o riso qu'ora calo
pelo tempo cansado de enxergar.

o que canto agora é pranto de engano
a verdade de mim quero longe.
não mais o certo, nem a roupa ou o pano
quero o espelho, o outro lado, a reza do monge.

quero o ritmo que quebra, assusta, insiste
quero a métrica derramada pelo chão:
espero o tempo que bate à porta e, triste,
hei de abri-la para encarar o que foi paixão.

este que vos escreve é sombra e arremedo.
decidiu testar o quanto suporta a alma,
que venha o feio, o medonho, o sonho, o medo
que venha o mar e seus demônios, nus de calma.

e percorrendo os segredos que não contei
porque a bem da verdade, não existiram.
o antigo eu que fui, enfim, verei
e morrerão os versos que de mim saíram.

chorem, então, é este o fim do poeta;
mas não chorem porque ele terminou.
chorem, sim, pois é esta a última meta.
quando vem a morte, é sinal que o poeta amou.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

_circense

Como voa a mariposa
À luz da luz que a alumia!
Ela, qual linda esposa,
Enche meu mundo de harmonia.
Ela voa ao sabor do vento
E este lhe afaga o vôo.
O espetáculo eterniza o momento
E a luz lhe concede asas de fogo.

Suas asas cantam na viagem,
Suave e doce melodia;
Pois nessa peça o personagem,
Esconde do público 'alegria.
Sendo eu, de máscara, tragédia
Com o rosto, em secreto, morto.
Sou um: horror e, ao mesmo tempo, comédia,
Num paralelo mundo torto.

E minha voz, abafada e contida
Mostra como eu mesmo me vejo.
Pois nessa peça, a prece escondida
É a mariposa voando em seu ensejo.